Hérnia de Disco: Um achado no exame ou um diagnóstico?

Receber o diagnóstico de uma hérnia de disco, para muitas pessoas, soa como uma condenação. É comum ouvirmos frases como: “minha coluna está desgastada”, “só cirurgia resolve” ou “nunca mais vou poder me exercitar”. Mas será que isso é mesmo verdade?

Minha experiência clínica e os estudos científicos mostram que não é bem assim.

Muitas pessoas convivem com hérnias discais sem apresentar nenhum sintoma. Outras, mesmo com dor intensa e a hérnia presente em um exame de imagem, conseguem abolir a dor e retomar as atividades cotidianas e esportivas com tratamento conservador, sem precisar recorrer à cirurgia ou ao uso contínuo de medicamentos.

Afinal, o que é uma hérnia de disco?

A hérnia de disco acontece quando parte do disco intervertebral, uma estrutura que atua como amortecedor entre as vértebras, se projeta para fora do seu espaço natural, geralmente como resposta a uma sobrecarga mecânica. Esse abaulamento pode ou não comprimir estruturas próximas, como por exemplo as raízes nervosas ou mesmo a medula espinhal.

Na verdade, a presença da hérnia por si só não determina o sintoma. A dor tende a surgir quando há inflamação ou sensibilização das estruturas ao redor, e mesmo nesses casos, o corpo tem uma incrível capacidade de se reorganizar, especialmente quando é conduzido com movimentos adequados.

Diagnóstico mecânico: o que realmente importa?

Mais importante do que um nome no laudo é observar como o corpo responde ao movimento.

No Método McKenzie, que aplico na minha prática, buscamos entender o que agrava, o que alivia e como a dor se comporta diante de posições ou movimentos específicos. Quando encontramos um movimento que promove centralização, ou seja, quando a dor que antes irradiava para a perna começa a se concentrar na coluna, temos um sinal muito claro de que estamos no caminho certo.

É por isso que, no consultório, mais do que tratar imagens, trato pessoas. A ressonância mostra estruturas. Mas é a função, o comportamento e a escuta do corpo que guiam o tratamento.

E quando a cirurgia é realmente necessária?

Existem, sim, casos em que a cirurgia é indicada. Isso acontece geralmente quando há perda importante de força muscular ou alterações significativas no controle da bexiga e intestino. Também pode ser uma opção quando o tratamento conservador, realizado de forma criteriosa, não resulta em melhora.

Mas esses casos são exceção. A imensa maioria das pessoas com hérnia de disco encontra alívio e recuperação por meio de uma abordagem ativa, consciente e segura, conduzida com responsabilidade.

Você não é o seu laudo

Uma imagem pode mostrar uma hérnia, mas ela não define sua capacidade de se mover, de viver com qualidade, de brincar com os filhos ou de retomar atividades que fazem sentido para você.

O que realmente importa é o cuidado que você dedica a si mesmo(a), a atenção aos sinais do corpo e a escolha por um tratamento que respeite suas possibilidades e objetivos.