Quando a dor lombar volta: recorrência, cronicidade e o papel do movimento
- Poliana Grasser

- 1 de out.
- 2 min de leitura
Poucas experiências são tão desanimadoras quanto sentir a dor lombar melhorar e, semanas ou meses depois, vê-la retornar. Essa recorrência é extremamente comum. Estudos mostram que cerca de 60 a 70% das pessoas que tiveram um episódio de lombalgia apresentarão nova crise dentro de um ano, e que até um terço delas terá episódios repetidos ao longo da vida.
Mas por que a dor volta? A resposta não está em um único fator, e sim em uma combinação de elementos que se entrelaçam.
Do ponto de vista biomecânico, padrões de movimento inadequados, sobrecargas posturais ou esforços repetitivos podem desencadear novas crises. Já no aspecto comportamental, o sedentarismo, o medo de se movimentar após um episódio doloroso e a ausência de estratégias de autogestão aumentam a vulnerabilidade a recaídas.
Há ainda o componente psicossocial: estresse, ansiedade, insatisfação no trabalho e sobrecarga mental estão entre os fatores que mais contribuem para a manutenção e recorrência da dor lombar. Esses elementos não criam a dor sozinhos, mas amplificam sua percepção e dificultam a recuperação.
A ciática também pode fazer parte desse ciclo. Em muitos casos, ela surge de forma aguda e se resolve, mas em outros pode acompanhar episódios recorrentes, alimentando o medo e a sensação de fragilidade corporal. Entender que, mesmo quando intensa, a ciática frequentemente responde ao tratamento conservador é um passo importante para quebrar o ciclo da insegurança e da imobilidade.
O movimento, quando bem orientado, é o maior aliado contra a recorrência. Não se trata apenas de “exercícios para as costas”, mas de recuperar a confiança no corpo, retomar atividades prazerosas e aprender a se ajustar diante de sinais precoces. Programas individualizados, que consideram a rotina, os hábitos e as preferências de cada pessoa, são mais eficazes do que prescrições genéricas.
A boa notícia é que a dor lombar não precisa ser um destino inevitável. Com informação de qualidade, acompanhamento profissional atento e responsabilidade compartilhada, é possível reduzir a frequência das crises e cultivar uma vida ativa e plena, mesmo em quem já conviveu com a dor por muitos anos.
Referências
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