Movimento é medicina: o corpo que se move se cura
- Poliana Grasser

- 3 de nov.
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O corpo humano foi criado para o movimento. É por meio dele que nos conectamos com o mundo, interagimos, trabalhamos, nos expressamos e comunicamos emoções. Cada gesto, por menor que seja, é uma forma de diálogo entre o corpo e a vida ao redor.
Quando nos movemos, cada sistema do organismo se desperta. O coração bombeia com mais eficiência, os pulmões se expandem, o sangue leva oxigênio e nutrientes a cada célula. Os músculos contraem e relaxam, estimulando o retorno venoso e o fluxo linfático, e o cérebro recebe sinais de vitalidade. Essa comunicação entre órgãos, tecidos e mente é o que faz do movimento uma forma natural de medicina.
A ciência mostra que pessoas fisicamente ativas têm menos dor, dormem melhor, pensam com mais clareza e apresentam menor risco de depressão, doenças cardiovasculares e declínio cognitivo. Mas o impacto mais profundo do movimento talvez aconteça em um nível mais sutil: o da regulação do sistema nervoso.
Quando o corpo permanece imóvel por muito tempo, em dor ou estresse o sistema nervoso tende a permanecer em estado de alerta. O ritmo cardíaco acelera, a respiração se torna curta e o corpo vive pronto para reagir, mesmo sem perigo real. É o que chamamos de hiperativação do sistema simpático, o modo “lutar ou fugir” do organismo. Esse estado constante de defesa interfere no sono, na digestão, no humor e na percepção da dor.
O movimento, quando realizado de forma consciente e gradual, tem o poder de reeducar o sistema nervoso. Ao estimular o equilíbrio entre o sistema simpático e o parassimpático, o modo “repousar e restaurar”, ele ajuda o corpo a sair do estado de ameaça e retornar à autorregulação. A respiração se aprofunda, a frequência cardíaca se estabiliza, a musculatura reduz a tensão e o cérebro interpreta o ambiente como seguro.
Além disso, o movimento mobiliza e oxigena o sistema nervoso, favorecendo o fluxo de nutrientes e a circulação do líquido cerebrospinal, que atua como um “banho protetor” para o cérebro e a medula. Esse líquido nutre, remove resíduos metabólicos e garante um ambiente químico estável para o funcionamento neural. O movimento, ao estimular esse fluxo, melhora a comunicação entre o cérebro, a medula e os nervos periféricos, aprimorando a coordenação motora e a sensibilidade. A oxigenação cerebral também se intensifica, aumentando a clareza mental e a eficiência dos processos cognitivos. Juntos, esses mecanismos ampliam a capacidade de o sistema nervoso se adaptar, autorregular e perceber o corpo com mais precisão.
Esse é o ponto de virada: o corpo que se sente seguro se cura melhor.
O movimento, portanto, não apenas fortalece o corpo, ele reprograma o sistema nervoso para funcionar em harmonia. Por isso, mover-se com consciência é tão diferente de se exercitar por obrigação. Quando o movimento é feito com prazer, o corpo o reconhece como sinal de segurança e coopera com o processo de cura. Quando é feito com tensão e cobrança, ele reforça o estado de defesa e perpetua o desequilíbrio.
Referências
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