Dor Torácica: A coluna como fonte silenciosa de sintomas de difícil interpretação
- Poliana Grasser

- 28 de jul.
- 2 min de leitura
A dor torácica, por seu potencial de gravidade, é compreensivelmente associada a causas cardíacas, pulmonares ou gastrointestinais. Essa associação exige, como primeiro passo, investigação clínica criteriosa e exclusão de quadros agudos de risco. Contudo, após a exclusão de causas cardíacas, pulmonares ou digestivas, é preciso considerar a possibilidade de uma origem musculoesquelética.
A coluna torácica representa uma região complexa, onde a estabilidade biomecânica se conjuga à mobilidade necessária à respiração e ao movimento do tronco. Localizada entre a base do pescoço e o início da região lombar, a coluna torácica compreende doze vértebras (de T1 a T12), articulando-se com as costelas e formando, junto ao esterno, a caixa torácica. Essa anatomia única a torna menos móvel que outras regiões da coluna, porém altamente influente em processos respiratórios e na distribuição de cargas posturais. Justamente por isso, disfunções torácicas, ainda que sutis, podem gerar sintomas à distância ou de interpretação difícil.
Alterações funcionais nessa região podem gerar sintomas de difícil interpretação clínica. Entre eles, destacam-se:
· dor torácica anterior ou lateral, difusa ou localizada
· dor epigástrica sem correlação com exames digestivos
· desconforto à respiração profunda ou espirros
· dor interescapular ou em faixa ao redor do tórax
· sensação de constrição torácica ou pressão retroesternal
· dor referida para a mama ou abdome superior
Esses sintomas, frequentemente atribuídos a causas viscerais, podem ser decorrentes de disfunções mecânicas envolvendo articulações costovertebrais, costotransversas, discos intervertebrais torácicos ou mesmo estruturas neurais sensitivas. A dor à inspiração profunda, por exemplo, pode estar associada a uma hipomobilidade articular que interfere no movimento da caixa torácica, gerando estímulo nociceptivo com o ciclo respiratório.
Autores como Maigne, Bogduk e O’Sullivan destacam que a coluna torácica é frequentemente negligenciada na investigação clínica, apesar de sua rica inervação sensitiva e capacidade de gerar dor referida para regiões à distância, como o epigástrio, a parede abdominal ou a mama.
Nesse contexto, a avaliação funcional torna-se essencial. A observação do comportamento da dor frente a movimentos específicos, posições sustentadas e testes de carga mecânica pode revelar padrões claros, como dor que se reproduz com extensão, flexão ou rotação do tronco, ou que melhora com movimentos repetidos.
Ao compreender que a coluna torácica pode ser a fonte de sintomas epigástricos, respiratórios e viscerais simulados, amplia-se a possibilidade de diagnóstico e intervenção eficaz. Para o paciente, esse entendimento pode encerrar um longo percurso de incertezas, dor sem causa aparente e tentativas terapêuticas frustradas.
Referências bibliográficas
Maigne, R. (2000). Diagnosis and Treatment of Pain of Vertebral Origin. Williams & Wilkins. McKenzie, R., & May, S. (2006). The Human Extremities: Mechanical Diagnosis and Therapy. Spinal Publications New Zealand.
O’Sullivan, P., & Lin, I. (2014). Acute and persistent musculoskeletal pain: integrating physical, psychological and social dimensions. British Journal of Sports Medicine.





