Dor lombar: a epidemia silenciosa
- Poliana Grasser

- 1 de set.
- 2 min de leitura
A dor lombar é reconhecida hoje como uma das maiores causas de incapacidade em todo o mundo. Segundo o Global Burden of Disease Study, publicado na The Lancet em 2018, ela ocupa consistentemente o primeiro lugar entre as condições que mais afastam pessoas de suas atividades diárias e profissionais. Estima-se que até 80% da população experimente pelo menos um episódio de dor lombar ao longo da vida, e que em cerca de 20% a 30% desses casos a dor se torne recorrente.
No Brasil, dados do Ministério da Saúde e de levantamentos populacionais apontam que a lombalgia está entre as principais queixas em consultas médicas e fisioterapêuticas, com um impacto significativo nos índices de absenteísmo laboral. Não se trata apenas de um problema individual: a dor lombar tem repercussões econômicas, sociais e emocionais que reverberam em toda a sociedade.
O curioso é que, na maioria dos casos, não encontramos uma causa estrutural clara para a dor. Exames de imagem frequentemente mostram alterações comuns ao envelhecimento, que nem sempre estão relacionadas aos sintomas. Essa condição é chamada de dor lombar inespecífica. Apesar de não indicar uma lesão grave, pode ser profundamente incapacitante.
Uma manifestação que costuma alarmar os pacientes é a ciática, caracterizada por dor que percorre a perna, podendo vir acompanhada de formigamentos ou perda de força. Embora chame atenção, na maior parte das vezes não significa uma lesão grave e tem bom prognóstico com tratamento conservador.
Por isso, compreender a dor lombar como fenômeno multidimensional é essencial. Ela não é apenas uma questão de ossos, discos ou músculos: envolve fatores biomecânicos, emocionais e comportamentais. Ignorar essa complexidade pode levar a tratamentos ineficazes e ao ciclo de recorrência que tantos pacientes vivenciam.
Este é o primeiro texto de uma série dedicada ao tema. No próximo, abordaremos as diferenças entre dor lombar aguda e dor lombar crônica, explicando por que esses dois quadros exigem olhares e condutas distintas.
Referências
1. Hartvigsen J, Hancock MJ, Kongsted A, et al. What low back pain is and why we need to pay attention. Lancet. 2018;391(10137):2356-2367.
2. GBD 2016 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators. Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 328 diseases and injuries, 1990–2016. Lancet. 2017;390(10100):1211–1259.
3. Ministério da Saúde (Brasil). Dor crônica: um problema de saúde pública. Brasília, 2020.
4. Koes BW, van Tulder M, Peul WC. Diagnosis and treatment of sciatica. BMJ. 2007;334(7607):1313–1317.





