Atividade física: obrigação ou prazer?
- Poliana Grasser

- 23 de out.
- 3 min de leitura
Vivemos em uma época em que “fazer exercício” se tornou quase um dever. A cada nova diretriz sobre saúde, surgem recomendações de que é preciso fortalecer para evitar a sarcopenia, levantar peso para proteger os ossos ou acelerar o coração para preservar a vitalidade. As orientações são baseadas em evidências sólidas e, de fato, o movimento regular é um dos pilares da saúde física e mental.
No entanto, cresce o número de pessoas que se exercitam movidas mais pelo medo do que pelo prazer. Medo de envelhecer, de adoecer, de perder desempenho. Muitos iniciam atividades físicas porque “devem”, e não porque desejam. Essa lógica da obrigação cria uma relação tensa com o próprio corpo, como se ele fosse uma máquina que precisa ser mantida, e não um espaço vivo de expressão e sensibilidade.
A pergunta que surge é inevitável: quando o exercício perde o prazer, ele ainda é terapêutico? O corpo não é apenas músculo, osso e articulação; é também emoção, memória e linguagem. Cada gesto carrega uma história. Mover-se sem presença ou significado pode até fortalecer estruturas, mas dificilmente fortalece o vínculo com a própria vida. O maior desafio talvez não seja “fazer exercício”, e sim reencontrar o sentido do movimento como fonte de vitalidade, liberdade e alegria.
A ciência mostra que a prática regular de atividade física reduz dores crônicas, melhora o sono, regula o humor e contribui para o equilíbrio hormonal. Porém, estudos também indicam que os efeitos mais duradouros ocorrem quando o movimento é vivido com prazer e autonomia. Quando o exercício é imposto, o corpo tende a resistir: há tensão, desmotivação e até o agravamento da dor. Já quando o movimento é escolhido e faz sentido, ele reorganiza naturalmente corpo e mente.
Cada pessoa tem um ritmo e uma forma singular de se mover. Para alguns, a musculação é prazerosa e desperta sensação de força e superação; para outros, a leveza do yoga, a fluidez da dança, a meditação em movimento do tai chi ou o simples caminhar ao ar livre são caminhos mais naturais. O que importa não é o tipo de exercício, mas a relação que se estabelece com ele.
O medo da dor ou da perda física pode até ser o ponto de partida, mas é o prazer que sustenta o caminho. Quando há prazer, há constância. E é a constância, e não a obrigação, que reeduca o corpo, fortalece músculos e ossos, aprimora o equilíbrio e restaura a confiança. A pessoa que se move com prazer aprende a escutar o corpo. Reconhece seus limites, respeita seus tempos e descobre seus potenciais. Essa escuta transforma o exercício em cuidado, e o corpo em professor.
O movimento é, em essência, a expressão da vida. Não precisa ser cronometrado, prescrito ou comparado. Precisa ser sentido, respirado e vivido como um gesto de presença. O corpo busca movimento, não punição. E quando nos movemos com alegria e consciência, o exercício deixa de ser uma tarefa e se torna um ato de amor: amor pelo corpo que nos sustenta e pela vida que nele habita.
Talvez o segredo esteja em substituir a pergunta “que exercício devo fazer?” por “como posso me mover com mais presença e prazer hoje?”.
Referências
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