A travessia silenciosa antes do fim
- Poliana Grasser

- 2 de dez.
- 2 min de leitura
Há um momento do ano em que o corpo começa a falar mais baixo, mas com mais verdade. Não é feito de datas nem de calendários. É um lugar interno em que percebemos que, apesar de termos avançado, algo ficou pelo caminho. Corremos quando deveríamos ter respirado. Dissemos “sim” quando o corpo pedia um não, pedia um limite. Carregamos pesos que não eram nossos ou que já não deveríamos mais sustentar.
O final do ano às vezes nos cobra, mas principalmente nos revela. A luz que diminui em alguns dias, a pressa que se intensifica, o cansaço que se acumula, tudo isso desenha um retrato fiel do ritmo que sustentamos. O organismo, sábio e antigo, devolve em sinais aquilo que foi ignorado ao longo dos meses. A dor que se acentua, o sono que perde profundidade, a tensão que retorna, o humor que oscila. Não há julgamento nesses sinais, apenas a lembrança de que somos seres vivos, não máquinas incansáveis.
Este é o tempo da travessia silenciosa. O instante em que o corpo pede uma pausa verdadeira, uma pausa para reorganizar pensamentos, descansar todos os sistemas, libertar o que apertou demais e reabrir o espaço interno onde a vida respira com naturalidade. Mas será que escutamos esse chamado?
Entramos no fim do ano como quem chega à beira de um rio depois de um longo percurso. Precisamos olhar para trás com honestidade, reconhecer o que nos trouxe até aqui e, com a mesma gentileza, liberar o que já não pertence. Nesses momentos a vida se reorganiza e o corpo deixa de resistir e volta a acompanhar.
Que este dezembro seja um convite ao retorno ao essencial. Um tempo de repouso lúcido e de cuidado verdadeiro. Que possamos encerrar 2025 não apenas com festividades, mas com a clareza e a consciência dos pesos que podemos deixar para trás, para seguir com mais leveza.





